A montanha não era muito alta, era grande o suficiente para conseguirmos subir apenas com algum meio de locomoção ou, muita disposição. Eu mesma havia feito uma trilha com minha lambreta e tinha tudo fotografado no meu computador. A casa era um chalé simples, antigo. A madeira era velha, tinha um clima rústico... Para entrar na casa tivemos que passar por uma escadinha caindo aos pedaços, entramos numa sala bem decorada com poeira e teias de aranha, eu me sentia bem nesse clima ‘sujo’. Eram dois andares, mas no andar de cima era apenas um pequeno sótão onde havia algumas caixas com uns álbuns antigos... eu sempre me perguntei por que aquela casa estava abandonada.. para mim sempre foi um enigma. Pietro estava encantado com a casa, até eu me espantava as vezes de alguma forma ela era linda, trazia uma história por trás de cada canto.
“- Você não faz idéia do que tem pra cá ” Falei indo em direção a porta dos fundos
“- Me espere Luana, nossa, você já viu isso?” Falou olhando para a cozinha antiga e os pratos postos na mesa, como se fosse haver um jantar naquele instante.
“- Eu sei. Essa casa é um enigma para mim. Ela é tão calma e tão arrepiante, ao mesmo tempo em que eu gosto de estar aqui, me dá vontade de correr até a árvore da frente e... bem, o que me dá vontade não é novidade para você.
- Luana, eu já lhe falei que a morte não é a solução para nada.
- Eu sei, eu sei... Olha Pietro, vem cá ver. ”
Abri a porta pesada e antiga, e então pudemos ver o quintal da casa, aquele era o lugar em que me dava uma paz interior que eu jamais havia sentido. Era um lugar simples, com um tanque e um varal, havia meias, vestidos, tudo estendido ali, esperando a dona da casa ir buscar e levá-los para dentro. Eu me sentei para contemplar a vista, podíamos ver a cidade inteira. Nós éramos os donos da cidade.
“- Escute Pietro, eu tenho tentado lhe falar isso há anos e eu acho que essa é a melhor hora, eu..” Fui interrompida abruptamente, quando ele começa a falar
“- Luana, você é a melhor. Essa casa é perfeita, esse lugar é perfeito. Agora eu sei de onde você tira tanta inspiração. Eu lhe prometo que não trarei ninguém aqui, esse lugar vai ser somente nosso, daqui até a eternidade. Imagina só, nós dois, velhos e solteiros aqui, eu lhe contando de todos os meus casos adolescentes e você me chamando de idiota no meio das suas risadas escandalosas. Olha aqui pra mim, olha no fundo do meu olho: Você é minha melhor amiga e nada disso vai mudar.”
Aquilo foi um tapa na minha cara, nos meus pensamentos, na minha vida. Tava na cara que ele não ia querer nada além de amizade, tava na cara que ele não gostava de mim como eu gosto dele. Velhos e solteiros? Que tipo de velha ele acha que eu vou ser? Aliás, quem disse que eu vou ficar velha? Vou morrer jovem. Eu quero morrer jovem. Eu não agüento mais esconder esse amor, eu já estou no terceiro ano e não fiz nenhum progresso durante o processo escolar inteiro. Eu preciso contar pra ele, mas como? Ele nunca me dá ouvidos.
“- Pietro, eu fiz esse álbum pra você de aniversario, são todas nossas fotos, nossas memórias desde pequenos.”
Ele me olhou fixamente e eu senti meu mundo desabar, então começou a olhar as fotos e sorrir, quando ele acabou de ver todas, de ver o quanto nós temos de história juntos, ficou um silencio profundo no ar, ele parou e ficou olhando pro horizonte, será que ele finalmente estava sentindo o mesmo que eu?