Platônico (Part VI cap I - Dezoito)

Eu ainda estava meio abalada com o que Flavio disse, ele agiu como se ainda namorássemos. E agora, Pietro estava por pouco tempo na minha casa e eu ia passar a noite sozinha enquanto ele estava provavelmente com outra. Eu não podia acreditar.


“– Ora Luana, não fique assim, levanta desse sofá e vem aqui me dar um abraço.”


Eu fui. Eu queria pedir um beijo. Mas ele estava dando a mão, não ia pedir o braço logo de cara. Eu o abracei e senti aquilo. É, aquilo que todos dizem... Aquela sensação, as borboletas no estômago. Eu ouvi os sinos, os pássaros. Eu já tinha nosso casamento planejado desde meus dez anos. Então eu percebi que o coração dele estava acelerado. Eu o larguei e logo desconversei


“– Você vai se atrasar. Vai logo... já tomei seu tempo demais hoje.


– Desde quando eu deixo a minha garota sozinha? Vou ligar para Natalia e desmarcar nosso encontro. Nada é mais importante que você. ”


Como eu poderia me sentir mal com um menino daqueles? Ele era perfeito e a cada ação eu ficava mais apaixonada por ele.


Então decidi que tínhamos que fazer o jantar afinal o dia foi longo. Ele me ajudou a cozinhar – na verdade ele cozinhou. Digamos que a cozinha não é meu forte. Então passamos por umas horas conversando, sorrindo e cozinhando. Parecíamos um casal sem esses problemas de casal. Sabe o cansaço, a falta de sorrisos... Na minha cabeça éramos um casal sem rotina. Mas eu precisava cair na real, nós não éramos nem de longe como um casal. Escolhi um filme romântico para a noite e como sempre passei o filme inteiro criticando essa visão de amor perfeito. Ele sorria e mexia nos cabelos negros, ele olhava no fundo do meu olho. E quando eu deitei no seu colo, exausta de falar que o amor não existe, ele sorriu de leve e disse que o amor verdadeiro era raro, mas que poderia sim ainda existir. O silêncio tomou conta do meu quarto. Eu fiquei olhando no fundo dos olhos dele e ele não desviou o olhar nenhum segundo de mim. Ali ficamos deitados, olhando um para o outro e pelo menos eu, pensando o quão lindo seria nosso primeiro beijo naquele momento. Eu sorri e o chamei de idiota, minha profissão sempre foi quebrar climas. Ele continuava me olhando e então eu me sentei do seu lado, suspirei e perguntei


“- Você tem mesmo certeza sobre isso?


- Sobre o que?


- Sobre o que estamos prestes a fazer.


- Bom, pelo menos eu não vejo por que não fazer ”


Ele pegou no meu rosto, eu estava trêmula. Eu balancei a cabeça afim de saber se eu estava sonhando, ele se aproximou de mim lentamente e parou próximo do meu rosto. Eu estava estática, ele foi chegando perto dos meus lábios com uma leveza sem tamanho e então finalmente um beijo aconteceu. Depois de onze anos, eu consegui beijá-lo. E foi o melhor beijo da minha vida. Eu senti uma ternura, eu senti o amor entre nossos lábios. Quem foi que disse que o verdadeiro amor não existia? Parecia que a garota que acabara de tagarelar sobre o amor ser uma fraude, estava completamente caída por ele. E quem sabe esse é o trabalho dele, provar pra todos que, na hora certa, ele vem e te deixa completamente sem chão.

Platônico. (Part V cap I - Dezoito)

Nunca, nem em meus pensamentos mais remotos aquele momento passou pela minha cabeça. Eu não sabia como agir, só queria que o elevador andasse logo. Mas é uma incrível lei da física, não é mesmo? Quanto mais rápido desejamos que o tempo passe, mais ele demora. Teimosia é uma palavra que define o tempo. Pietro então, percebendo que eu estava estática tomou a frente da situação


“ – Vamos com calma, cara. Quem você pensa que é para agir desta forma?


– Ora Pietro, não se finja de inocente. Eu sou o namorado dela, vejo vocês dois nessa cena e você vem perguntar que eu penso que sou?


– Namorado dela? Você só pode estar viajando cara, seu relacionamento com Luana acabou já tem muito tempo. Não perturbe mais a minha garota se não você vai se ver comigo.”


E então a porta do elevador abriu. Eu logo exclamei “Salvo pelo gongo!” e saí rindo. Queria mostrar que estava bem... Mas Pietro sabia que não. Chegamos finalmente no meu apartamento, o silêncio tomava conta do lugar.


“– Mãe? Você está aí?” Não obtive sequer uma resposta. E agora? Estávamos nós dois ali, sozinhos no meu apartamento, eu e Pietro depois de um longo e cansativo dia.


“– Vou ligar para ela vir pra casa.


– Não, ligue e pergunte onde ela está, mas não a mande vir para casa... Ela tem que se divertir um pouco. ”


Liguei. Ela não ia dormir em casa. A-há destino, você só pode estar brincando comigo. Ela disse que se Pietro pudesse era pra ele dormir lá comigo. Eu não sabia como dizer isso para ele. “Ah Pietro, dorme aqui hoje comigo, não basta o dia incrível que tivemos, vamos continuar tendo a noite inteira juntos.” Claro Luana, claro. Mas algo eu teria que fazer. Com um sorriso meia-boca falei baixinho


“– Ela.. Ela não vai dormir em casa. E mandou dizer para você dormir aqui.


– Sério? Isso é ótimo.” Então ele parou e pensou, como eu temia que o fizesse.


“– Tenho um compromisso. Não acredito.


– Tudo bem, você sabe que eu amo ficar sozinha.”


Sorri e tentei desconversar. Ele sabia que eu não poderia ficar sozinha. Ninguém me deixa completamente sozinha desde que... bem, desde que meu pai faleceu. Eu tinha apenas sete anos e não sabia o que pensar. Ele sempre foi meu herói e morreu de uma causa tão repentina. Não gostava de lembrar. Pietro sabia de todas minhas confusões mentais, ele sabia de tudo. Ele reparava em mim, ele se importava de verdade com o que eu sentia e não me perguntava as coisas apenas por curiosidade. Ele me amava. E eu... Eu o amava com todas as minhas forças possíveis, eu amava o jeito que ele arrumava o cabelo quando ficava sem graça. Eu amava o jeitinho dele de falar todo enrolado. Eu amava aquele estilo meio rock’n roll. Eu me sentia tão cheia de mim e me sentia nele. O meu coração estava com ele e ele apenas não sabia disso.

Platônico (Part IV cap I - Dezoito)

Nada que eu começo termina bem, isso já é típico. Ainda mais a minha terrível idéia de estar ali naquele lugar totalmente romântico com Pietro que foi meu primeiro amor, mas antes de tudo é meu melhor amigo. Ele então se virou para mim.


“– Sabe o que eu acho mais estranho?


– O que?” Fitei-o com meus grandes olhos cor de mel.


“– Nós, estarmos aqui nesse lugar tão lindo e misterioso e nem namorados somos. Isso é tão engraçado... Sabe, eu já imaginei milhares de vezes nós dois juntos, mas nunca tive coragem pra concretizar. Pra mim é algo totalmente surreal, eu e você juntos. Impossível.


– Impossível por quê? O que nos impede?” Eu sentia meu coração palpitar.


“– Ah Luana, muitas coisas nos impedem e você sabe disso até melhor que eu. Nossos pais são muito amigos e todos nos vêem como irmãos... você realmente faria isso?


– Claro que não Pietro, só estava averiguando se você me acha feia, bobo.”


Sorri e desconversei. Minha cabeça era um turbilhão de pensamentos, eu não sabia o que fazer... ele mesmo falou que ficaria comigo e eu deixei a chance escorrer pelos meus dedos. Eu sabia que não era o que o idiota do meu coração queria mas sim o que o meu consciente queria transparecer. Subimos então, de volta no seu carro, eu só queria ir embora dali. O clima frio deixava a casa mais sombria a cada hora que escurecia. Fechei meus olhos cansados por um segundo e quando abri já estávamos na porta da minha casa.


“ – Quer entrar? Minha mãe vai adorar ver você como já deve imaginar..


- Claro que sim Luana, mas não posso demorar.”


No exato momento em que a porta do elevador abriu, veio uma pessoa correndo atrás para que segurássemos a porta para ele, quando me deparo logo com quem? Flávio, novamente. Ele ficou nos olhando e então Pietro segurou minha mão. Segurou forte, tão forte que eu me sentia segura, amada e não queria sair dali nunca mais. Flávio então, não agüentando mais a agonia de ver essa cena exclama


“ – Eu sempre soube que vocês tinham um caso. Eu sempre soube! Eu nunca quis acreditar no que me diziam.. essa amizade de vocês sempre foi muito estranha.”


Eu fiquei sem reação, estática, olhando para ele e para Pietro sem saber o que fazer.